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Em entrevistas, Jhonatas Monteiro explica decisão de disputar vaga na Câmara pelo PSOL

Política - 12/08/2020

Em entrevista ao programa Acorda Cidade e ao site O ProtagonistaJhonatas Monteiro falou sobre a decisão coletiva do PSOL em disputar vagas na Câmara Municipal e anunciou sua pré-candidatura a vereador em Feira de Santana. Nas duas oportunidades, comentou ainda sobre a pré-candidatura a prefeita de Marcela Prest, apresentada pela direção partidária. O partido realizará virtualmente sua 4ª plenária eleitoral no próximo sábado (15).

Protagonista - Jhonatas Monteiro será candidato a vereador ou a prefeito pelo PSOL?


Jhonatas Monteiro - Respondendo de modo direto, sou pré-candidato a vereador pela primeira vez. Depois de um período longo de reflexão e diálogo com o maior número possível de pessoas, optei por tornar pública a decisão neste momento. Na prática, aguardei ao máximo diante da situação difícil o país vive por causa da pandemia de Covid-19 e da postura desastrosa do governo Bolsonaro. Sendo muito franco, no PSOL a discussão sobre eleições ocupou um lugar secundário nos últimos meses frente à crise. Acertadamente, de março para cá, uma prioridade foi montar uma espécie de “rede de solidariedade” para garantir algum tipo de apoio às famílias e comunidades mais duramente atingidas pela atual situação. Muito rapidamente, em inúmeros lugares de Feira, o cenário de famílias passando fome se tornou ainda mais visível. A nossa avaliação é que, infelizmente, temos uma perspectiva de crise social grave e prolongada. Não se trata apenas dos efeitos econômicos da pandemia, mas que a condução de Bolsonaro e seus ministros empurra o país para o “buraco”: aumenta o desemprego, retira direitos e destrói políticas públicas. Então, nossa preocupação foi estruturar essa rede e começar a organizar o máximo de famílias para o enfrentamento dessa situação no médio e longo prazo. A outra prioridade que tomou o nosso tempo, sem dúvida, foi combater a irresponsabilidade do governo municipal em relação à pandemia. Colbert, é bem verdade, não partiu para o negacionismo criminoso do governo federal, mas se concentrou em usar o cumprimento das medidas sanitárias mais básicas para tentar melhorar sua imagem. Não à toa, boa parte das iniciativas do governo municipal se concentrou em propaganda. O problema é que esse “castelo de cartas” foi abaixo quando o prefeito cedeu à pressão do grande empresariado comercial, o que significou uma série de “reaberturas” desrespeitando completamente qualquer critério científico. Deu no que deu: esse descontrole absurdo no número de casos em Feira e, com o “abre e fecha” arbitrário, muita confusão no povo. Na realidade, faltou e ainda falta plano de gestão da crise. Inclusive, o PSOL acionou o Ministério Público sobre isso recentemente. Então, retomando o início: a discussão e o anúncio sobre a pré-candidatura a vereador podia esperar diante disso tudo.


O Protagonista - Por que esta decisão?


Jhonatas Monteiro - Como disse, fiz um diálogo mais amplo que pude sobre a questão. No PSOL, desde o último Congresso Municipal, o entendimento é que um objetivo a eleição de mandatos na Câmara Municipal este ano. Considerando o amadurecimento da construção do Partido no município, inclusive os resultados eleitorais muito expressivos, é necessário dar um próximo passo na ocupação do espaço institucional. Quando digo necessidade é porque se trata disso mesmo. Por exemplo, no ano passado, na primeira sessão da Câmara protocolamos um pedido de investigação das milionárias fraudes nos contratos da área de saúde do município. O pedido foi “enterrado” em minutos, sem que pudéssemos fazer a defesa diretamente porque não tínhamos nenhum vereador ou vereadora. Além disso, tendo em vista que as nossas campanhas sempre contaram com apoio muito além de quem é filiado ou filiada, o diálogo também apontou três razões fortes. A primeira, diversos e expressivos setores sociais de Feira não se sentem representados por ninguém na Câmara. O nosso município tem problemas complexos, forte diversidade de pautas da sociedade civil e inúmeras lutas populares ocorrendo todo dia. Porém, na média, os vereadores e vereadoras estão “de costas” para tudo isso. A segunda razão é que, para prejuízo do povo, o governo municipal é controlado pelo mesmo grupo político há vinte anos através do esquema corrupto montado pelo ex-prefeito José Ronaldo. O problema é que isso só foi possível porque a Câmara abandonou o seu papel legal mínimo: não só de pautar projetos de lei que atendam a maioria da população em sua diversidade, mas principalmente de fiscalizar o que se faz ou se deixa de fazer na prefeitura. A qualidade do trabalho legislativo é vergonhosa, motivo de piada até no noticiário. A terceira razão se relaciona ao contexto nacional: o governo Bolsonaro é um risco para as frágeis conquistas democráticas que temos no Brasil. Desde antes da campanha eleitoral de 2018, e agora com um governo de extrema-direita, o estímulo político às de diversas formas violências tem subido de forma visível. O clima de “liberou geral” já tem um impacto brutal nas periferias, no campo e sobre todos os grupos que já eram mais vulneráveis. Isso precisa ser enfrentado, o que exige usar todos os instrumentos de luta à disposição – Como um mandato de vereador, por exemplo. Por todas essas razões, a avaliação coletiva é que chegou a hora de ocupar a Câmara Municipal. Obviamente, pelo fato de ser a referência pública mais conhecida do PSOL no município, isso passa pela disponibilidade do meu nome para fortalecer a possibilidade de eleição.


O Protagonista - a chapa proporcional do partido já está definida?


Jhonatas Monteiro - Ainda acontecerão momentos de discussão eleitoral, como uma Plenária no próximo sábado, mas boa parte da chapa já está listada. Em relação a 2016, quando apresentamos seis candidaturas, apresentaremos uma chapa bem maior este ano. No processo eleitoral passado cada candidatura teve um perfil temático muito bem definido, mas neste o desafio foi um pouco além: estimular ao máximo que pessoas das periferias e áreas populares em geral se candidatem pelo PSOL. Essa intenção corresponde ao que chamamos de “plataforma de candidaturas populares”, o que significa um esforço para desconstruir uma visão elitizada da política. Em geral, infelizmente, é muito forte ainda a ideia que a atividade política não é para pessoas “comuns”. Pelo contrário, avaliamos que muita coisa só é do jeito que é porque a política não é ocupada, como costumo dizer, por quem sente na pele a exploração, a opressão e a negação de direitos. Então, o conjunto de companheiras e companheiros que serão as candidaturas do PSOL nessa eleição tem muita força porque são pessoas que vivem de perto as dores de Feira de Santana. São pessoas que assumiram, com simplicidade autêntica, um compromisso com a luta para transformar essa realidade. Como em sua maioria são primeiras candidaturas, há algum tempo começou um processo de preparação discutindo quais as funções de um mandato na Câmara Municipal, o que o PSOL defende e como fazemos campanha. Isso é importante porque “renovação” política não é apenas mudar nomes e “trocar seis por meia dúzia”, mas renovar a política com pessoas que tragam outra visão e prática de verdade. Aliás, é nesse sentido da nossa construção para a disputa do governo municipal. Neste ano, pela discussão colocada na direção partidária, a companheira Marcela Prest é a nossa pré-candidata a prefeitura de Feira de Santana. Como logo o conjunto do município vai descobrir, se trata de alguém muito sintonizada com a grande maioria que não se vê na política tradicional. Não só pela trajetória de luta, mas também pela capacidade de apresentar propostas que dialogam com o que é viável agora sem perder de vista a necessidade de uma transformação social radical.


O Protagonista - Qual avaliação do adiamento das eleições municipais para novembro?


Jhonatas Monteiro - Uma medida necessária, mas provavelmente insuficiente. Por todos os erros na condução governamental da crise, o país é marcado oficialmente todo dia por mais de mil mortes há meses. Em função da absurda desigualdade, de modo muito evidente, as mortes têm se concentrado na população negra e pobre. Ao contrário das recomendações científicas, a reabertura geral de atividades está ocorrendo durante o que aparenta ser o “pico” da pandemia. Esse é o caso, inclusive, de Feira. Dessa maneira, não há previsão que garanta que durante o período de campanha eleitoral propriamente dita a situação esteja mais tranquila. É um cenário que coloca em risco quem trabalha na Justiça Eleitoral, quem se voluntaria na época e toda a população. Acredito que também em relação às eleições, assim como na discussão sobre retomada das aulas ou reabertura do comércio, o principal critério deveria ser a segurança das pessoas. Infelizmente, mesmo depois de mais de cem mil vidas perdidas, não é esse o caminho que tem predominado e, ao que parece, as eleições acontecerão mesmo em condições extremamente difíceis. Na prática, isso impõe ao PSOL a necessidade de se preparar para enfrentar o processo eleitoral sob risco que a nossa ausência favoreça os de sempre. Por isso mesmo, temos refletido sobre um método de campanha seguro, mas que preserve o sentido do que fizemos em todas as eleições: diálogo sincero, pé no chão e compromisso real com o povo.




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