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Elogio à loucura

Poesia - 10/07/2014

Benditos os loucos

         porque encontram tempo para se arrepiar

         com as encantações do crepúsculo

porque se comovem de indignação

  diante da barbárie que tanto espezinha o humano.

Benditos os loucos

porque abraçam as árvores

cultivando a relação de complementaridade com a natureza

 

porque ousam arriscar cotidianamente

inventando os compassos de sua própria destinação no mundo.

 

Benditos os loucos

porque se espantam com a grandeza das coisas pequenas,

das inutilezas da vida

 

porque se inconformam e se rebelam

diante de tantos abusos aos direitos humanos, ao ecossistema.

 

Benditos os loucos

porque se arrepiam com as intensidades

do laço de um abraço apertado

porque pagam o mico das errâncias

que nos iniciam nas aprendências dos sentidos da vida.

 

Benditos os loucos

      porque se extasiam com a graça e a leveza

      do riso de uma criança

 

porque buscam romper as grades das prisões escolares

e incrementar instâncias de fruição do saber com sabor de vida.

           

   Benditos os loucos

porque preferem experimentar, “sujar as mãos”,

do que se enlatar nas coisas prontas, pre-moldadas

 

porque  repudiam as lógicas do individualismo e da competição,

e primam pelas lógicas do altruísmo e da solidarização.

 

Benditos os loucos

porque transgridem as fôrmas dos padrões do ordinário

e se aventuram nas formas moventes do extraordinário

 

porque se despojam de corpo e alma,

e caem na folia das celebrações que renovam e vivificam o existir.

 

   Benditos os loucos

porque se enternecem com a formosura da lua cheia

em estado pirilampo de ad-miração.        

 

porque rompem com as cercas dos poleiros das galinhas

e alçam os voos altaneiros de seu espírito de águia.

 

  Miguel Almir

Miguel Almir
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