Muita gente não gosta de abordar o
assunto porque julga que a pandemia acabou, que a Covid-19 se tornou um tema
repisado, ultrapassado, que teima em não sair do noticiário e que, inclusive,
não é mais moda. Quem se dispõe a abordá-lo passa por insistente, chato e até –
supremas acusações – hipocondríaco ou comunista disfarçado, interessado em
incutir o medo e difundir o pânico na pobre sociedade crédula. Mas o fato é que
a pandemia não acabou. Os casos notificados e as mortes, a propósito, voltaram
a subir no País.
Os festejos juninos resgataram a
arraigada tradição nordestina, reaproximaram familiares e amigos, entusiasmaram
multidões, movimentaram a economia, dinamizaram diversos setores produtivos e
injetaram uma sensação de normalidade, depois de dois desafiadores anos de
pandemia. A frenética mobilidade e as inevitáveis aglomerações, porém,
reacenderam o risco de disseminação da Covid-19, principalmente em função da
emergência de uma quarta onda.
Aqui na Feira de Santana, até 20 de junho,
o número de casos da doença cresceu quase 150% em relação ao mês anterior,
maio. Em 20 dias, foram 172 casos, contra 69 em todo o mês passado. As
informações são da Secretaria Municipal da Saúde. Nos próximos dias, será
possível mensurar os efeitos das aglomerações juninas.
O avanço da vacinação – apesar do
genocida negacionismo de muitos insanos que circulam por aí – vem ajudando – e
muito – a frear casos graves e mortes, mas os riscos permanecem visíveis.
Principalmente porque a vacinação perdeu ímpeto, sobretudo no que se refere às
doses de reforço. Os mais expostos são os mais velhos, os imunossuprimidos e,
obviamente, quem não está com o esquema vacinal em dia.
Na Bahia os números também são
crescentes, depois de um declínio acentuado. Ontem (27) havia 6,1 mil casos
ativos. Em maio, a média móvel de infectados ficou, durante vários dias, abaixo
de 300 casos. Com os festejos juninos – é bom ressaltar – há o risco do número
de casos voltar a subir. Junto com ele, as mortes, embora não nas dimensões das
ondas anteriores. Mas são mortes potencialmente evitáveis. Daí a tragédia.
Talvez, nos próximos dias, seja
recomendável redobrar cuidados, sobretudo em relação ao uso da máscara em
ambientes fechados. De olho nas eleições, os governantes foram flexibilizando a
medida nos últimos meses, contrariando as orientações de especialistas. O
resultado – óbvio – é o aumento no número de casos.
Há quem filosofe que o “velho normal”,
pré-pandemia, nunca será integralmente resgatado. O debate é controverso e
envolve múltiplas nuances. O São João mostrou, no entanto, que muita gente
ignora essa realidade porque se atirou, com ímpeto temerário, às celebrações
juninas...