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André Pomponet

Quantas pessoas passam fome na Feira?

08/06/2022

Notícias indicam que, no momento, 33,1 milhões de brasileiros estão passando fome. O levantamento é do Instituto Vox Populi. O número corresponde a 15,5% da população brasileira. Não é pouca coisa: a imprensa informa que a situação é a pior desde 2004, quando o levantamento começou a ser efetuado com a mesma metodologia. Naquela época, as políticas de transferência de renda apenas engatinhavam no País. No Nordeste, o cenário é mais dramático: 12,12 milhões de pessoas enfrentam a fome em sua rotina.

Aqui na Feira de Santana quantas famílias convivem com a tragédia da falta de alimentos? Não há dados oficiais recentes. Em dezembro de 2019 – antes da eclosão da pandemia da Covid-19 e das agruras econômicas dela resultantes – o cadastro do Ministério da Cidadania indicava que havia 71,6 mil famílias com perfil para o então Programa Bolsa Família (PBF). A quantidade de famílias atendidas, naquele momento, correspondia a apenas 31 mil.

Imagino que a pandemia tornou tudo muito pior. Afinal, as famílias pobres foram as mais afetadas pelo vagalhão recessivo decorrente da Covid-19. Tudo indica que a pobreza aumentou – e muito – desde então. Mas não há dados recentes, a eficiência que inspirou a concepção do Bolsa Família foi sepultada no mandato de Jair Bolsonaro, o “mito”.

Vasculhando o site do Ministério da Cidadania, consegui acessar um painel com informações do badalado Auxílio Brasil, sucedâneo do PBF: segundo o site, 60,7 mil famílias foram beneficiadas em maio no município, com o repasse total de R$ 24,4 milhões. O benefício médio alcança R$ 401. No mesmo painel, fazem uma comparação marota com o total de beneficiários de maio de 2018: 30,6 mil famílias atendidas, R$ 110 de benefício médio e R$ 3,4 milhões repassados.

A comparação é marota porque recorrem à época em que Michel Temer (MDB-SP), o mandatário de Tietê, era presidente da República e lipoaspirou o Bolsa Família. Aliás, é bom lembrar que o “mito”, manteve o programa desidratado até recentemente. Podiam comparar com abril de 2012, por exemplo, quando 51,5 mil famílias eram beneficiárias do PBF. Isso num momento em que o Brasil vivia uma situação econômica favorável e a pobreza declinara de maneira acentuada.

O fato é que o número de famílias expostas à pobreza e à fome deve ter crescido desde a última atualização – ainda na época do PBF – em função da pandemia. Provavelmente não são mais apenas 71,6 mil. As festejadas 60,7 mil famílias beneficiárias, portanto, não representam o conjunto de todos os necessitados.

Volta-se, então, à questão inicial: quantas famílias – na verdade, quantas pessoas – passam fome, atualmente, na Feira de Santana? O drama é monumental e ajuda a explicar a elevada rejeição ao “mito” no Nordeste.

Por fim, é bom lembrar que a tragédia não se deve só à pandemia ou à guerra na Ucrânia. A causa maior é o criminoso desmonte de uma série de políticas públicas de viés social, promovido pelo desgoverno que está aí se assanhando para um golpe que lhe permita se perpetuar no poder...

André Pomponet