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André Pomponet

Comércio se reanima, mas e o câmbio?

04/12/2019

Desde a semana passada que o movimento no comércio feirense começou a crescer. Pés ansiosos palmilham as calçadas, disputam os espaços exíguos, sustentam a marcha imprecisa de quem garimpa promoções, preços mais em conta. Foi na semana passada que a primeira parcela do décimo terceiro salário gotejou na conta do trabalhador. Na mesma semana passada, também, aconteceu a festejada “Black Friday”, cujas controversas promoções atraíram muita gente. Isso explica o movimento mais intenso no período.

O “Feiraguai” – fervilhante centro popular de compras no centro feirense – também registrou movimento mais intenso em suas artérias estreitas, sempre congestionadas nesse período. Equipamentos eletrônicos, acessórios e uma infinidade de bibelôs atraem feirenses e gente que se desloca das cidades das cercanias.

Há quem aposte que esse vai ser o Natal mais promissor dos últimos anos. E que a economia, ano que vem, vai engrenar de vez. É o que insinua a turma do “deus mercado”. Mas muita gente está cautelosa. Afinal, desde a deposição do petismo – isso lá em 2016 – que o discurso é imutável: a retomada está logo ali, na próxima curva do caminho. Dilapidaram direitos, aviltaram o trabalho, mas nem assim o cenário mudou.

Novos problemas, porém, começam a se insinuar no horizonte. O mais complexo é a elevação do preço do dólar. Segundo o festejado ministro da Economia, Paulo Guedes – o opaco Posto Ipiranga – não há nenhum problema. Quem pretende adquirir produtos importados, porém, vai sentir no bolso.

É o caso do povão que torna a vida menos áspera consumindo quinquilharias importadas da China. Talvez no Natal o repasse de preços ainda não seja tão visível. Mas e em 2020? O que garante que os preços não vão acompanhar a oscilação do dólar para cima? A fé de Jair Bolsonaro, o “mito”? Esse é apenas um pedaço do problema, que gera impactos sistêmicos sobre a economia.

Os combustíveis também vão se tornar mais caros. Claro: a política de preços acompanha as cotações internacionais e o dólar é uma variável que influencia. Represando preços, o governo do “mito” replicaria o execrado petismo. Em tempos de ultraliberalismo, porém, vai acontecer o oposto: o brasileiro vai pagar mais caro para abastecer. Mas todos entenderão: são as idiossincrasias do nosso livre-mercado.

O preço da carne também subiu. Quem produz, prefere vender à China, que está pagando mais pelo produto. Alguns daqueles que se jactavam de comer filé precisarão migrar para carnes menos nobres; quem abastecia o refrigerador com carne de segunda vai mordiscar carne com osso; e quem se virava no ensopado com carne de terceira precisará recorrer à mortadela, ao ovo.

Até o preço do ovo pode subir. É bom, portanto, ficar mais atento ao megafone que anuncia o produto pelas ruas feirenses.

André Pomponet