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André Pomponet

Retrato da indústria e da administração pública na crise em Feira

05/08/2019

A crise econômica que se arrasta desde meados de 2014 causou estragos também sobre a indústria feirense. Dados disponibilizados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do então Ministério do Trabalho, indicam retração no número de estabelecimentos instalados no município e, também, na quantidade de empregos.

Segundo o levantamento, em 2014, havia 1.330 indústrias do setor de transformação na Feira de Santana. Três anos depois esse número caiu para 1.164. São 166 empresas a menos no intervalo. A retração se refletiu sobre o volume de empregos, que declinou de 20,5 mil para 17,7 mil. Foram exatos 2.776 postos a menos, considerando idêntico intervalo. Só o salário nominal melhorou: passou de R$ 1.598,06 para R$ 1.943,71.

Houve encolhimento também na quantidade de empresas de serviços industriais de utilidade pública. Eram 13 em 2014 e caíram para 12 três anos depois. O estoque de empregos, evidentemente, encolheu: passou de 877 para 840. Saldo negativo, portanto, de 37 vagas. O que subiu foi o salário médio, alavancado pelos reajustes no mínimo: pulou de R$ 2.572,49 para R$ 2.826.

O setor industrial enfrenta um processo particular de retração. Sob a perspectiva conjuntural, não restam dúvidas de que o declínio se deve à atroz crise econômica cujos efeitos ainda se fazem sentir. A indústria, a propósito, foi um dos segmentos mais afetados pelos desarranjos legados por Dilma Rousseff (PT) e cultivados pelos sucessores.

Há, porém, uma perspectiva, estrutural, pouco comentada: há muito tempo o Brasil enfrenta um crônico problema de “desindustrialização” – redução da participação desse segmento no Produto Interno Bruto, o PIB – que, obviamente, pode estar afetando também a economia feirense. A forte concorrência da indústria chinesa é um dos determinantes desse processo.

Os funcionários públicos foram transformados em vilões da vez pela imprensa e pelos políticos. Pois bem: pelo menos aqui na Feira de Santana o número de empregos também diminuiu na administração pública: eram 6,7 mil em 2014 e, três anos, depois eram 6 mil. Enxugamento expressivo: 736 postos a menos, mais de 10% do total. Para a categoria, também houve algum ganho salarial, na média: de R$ 2.421,37 para R$ 3.088,30.

Só na agropecuária houve avanço em relação aos postos de trabalho: de 932 em 2014 saltou para 1.091 três anos depois. O salário médio também subiu, saltando de R$ 987,24 para R$ 1.268,35. O saldo, numericamente, não é tão expressivo – 159 empregos a mais – mas, percentualmente, é significativo: quase 20% do estoque inicial. Um oásis de prosperidade no árido cenário de retração.

Esses números oferecem um retrato de como a Feira de Santana atravessou a tormentosa crise econômica que, por enquanto, segue assombrando os brasileiros. Não reflete os dramas embutidos, as múltiplas tragédias cotidianas, mas sinaliza o quanto o município perdeu com o intragável engasgo econômico. 


Retrato do comércio e dos serviços em Feira na crise



Basta andar um pouco pela Feira de Santana para perceber como há placas de “aluga-se” e “vende-se” à frente de estabelecimentos comerciais. Quase todos estão fechados. Desdobramento da terrível crise econômica que assola o Brasil há quase cinco anos, essa realidade já foi objeto de diversos comentários neste espaço. Até aqui, porém, as análises se davam com base na intuição, sem um conjunto mais consistente de informações. Dados recentes disponibilizados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) confirmam essa impressão.

Entre 2014 – último ano do soluço de prosperidade – e 2017, terceiro ano do engasgo econômico, o número de estabelecimentos comerciais na Feira de Santana caiu: passou de 6,1 mil para 5,9 mil. Essa redução repercutiu sobre o mercado de trabalho: a mão de obra empregada declinou, despencando de 40,2 mil para apenas 36,9 mil postos formais ocupados.

Não houve redução nominal no valor médio dos salários do setor. Ao contrário: este passou de R$ 1.272,22 para R$ 1.512,75 entre 2014 e 2017. A explicação é simples: apesar da crise, a recomposição do salário-mínimo – referência para boa parte dos trabalhadores empregados no comércio – impulsionou os rendimentos para cima. Não houve aumento real porque o Produto Interno Bruto, o PIB, caiu, mas o valor nominal foi preservado.

A surpresa favorável foi o setor de serviços: houve expansão na quantidade de estabelecimentos e no volume de empregos, embora com variação muito discreta. O número de estabelecimentos passou de 3,8 mil para 4 mil  e a quantidade de empregos formais oscilou de 44,6 mil para 44,8 mil. A rigor, é quase estagnação, mas é necessário considerar o contexto da feroz recessão. E, em alguma medida, até comemorar.

Os salários médios também subiram, repetindo o fenômeno do comércio: de R$ 1.691,18 em 2014 para R$ 1.943,01 em 2017. A oscilação também se deve à política adotada para o salário-mínimo, vigente até os estertores do ano passado, que combinava reposição inflacionária com acréscimo percentual da expansão do PIB. O refresco, porém, acabou: a partir daqui, só vão repor a inflação. E olhe lá.

Os dois setores são fundamentais para a economia feirense na geração de postos formais de trabalho: em 2014, 84,8 mil trabalhadores estavam vinculados aos dois setores. Três anos depois, após o período mais agudo da crise econômica, o número totalizava 81,7 mil empregos. Esses números correspondem a cerca de dois terços do estoque de postos formais na Feira de Santana nos dois períodos.

Segundo dados oficiais, desde o ano passado o PIB parou de cair, embora o mercado de trabalho esteja numa situação deplorável. As incertezas políticas, porém, permanecem, com potencial de frustrar a aguardada retomada e, por consequência, tornar o cenário mais difícil para quem trabalha.  
André Pomponet