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André Pomponet

Paradeiro na atividade econômica causa retração no PIB

17/04/2019

Janeiro, tradicionalmente, é mês de paradeiro. Sobretudo aqui na Feira de Santana, aonde férias são sinônimo de praia e, evidentemente, de cidade esvaziada. Fevereiro é mês de Carnaval e todas as expectativas se voltam para o Momo. Este ano como a folia foi, atipicamente, no início de março, muita gente apostou que a economia engataria a partir daquele mês. Quem estava atento constatou a modorra na economia feirense: o comércio devagar e o setor de serviços manquitolando, como há muito tempo, em todo o primeiro trimestre.

Viajando até Salvador é possível observar o mesmo paradeiro, apesar da festejada presença de turistas na capital durante todo o longo verão. As largas avenidas têm fluxo pouco intenso e os consumidores abandonaram os corredores dos shoppings e as fervilhantes artérias de comércio popular.

Pelas rodovias baianas também se percebe que o fluxo está longe daquele que se observava no início da década. Não é o mesmo paradeiro da profunda recessão de 2015/2016, mas há menos gente viajando e menos carga sendo transportada. O pior é que não é só aqui na Bahia: Brasil afora o que se vê é o mesmo paradeiro, apesar dos impulsos otimistas que marcam todo início de governo.

Pois bem: os números preliminares sobre o desempenho da economia no primeiro trimestre reforçam a sensação de paralisia. Em fevereiro, a atividade econômica recuou 0,73%, bem acima do que previam analistas. Janeiro já tinha registrado tombo: -0,31%. Os dados são do Banco Central. Com base nessas informações, se aposta em retração do Produto Interno Bruto, o PIB, no primeiro trimestre.

A situação não surpreende quem acompanha o descalabro administrativo que se desenrola em Brasília desde o início do ano. A campanha de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) foi um oco de ideias envolto em clichês, bizarrices e muito preconceito. Quem acompanhou as eleições atentamente percebeu que, daquilo, não sairia nada de aproveitável.

Os três primeiros meses de gestão confirmam plenamente essas expectativas. Não há ideias: à exceção dos interesses corporativos – do mercado financeiro, dos militares, de segmentos religiosos – não há um projeto, uma proposta, um plano, nada. Há somente bizarrices e galhofa: marxismo cultural, golden shower, nazismo de esquerda, perdão ao holocausto e uma lista, já infindável, de barbaridades.

O amadorismo gerencial comprime as expectativas sobre o crescimento do PIB semana a semana: o mercado financeiro já espera algo que não ultrapassa 1,98% para o ano. A turma do Fundo Monetário Internacional, o FMI, ainda permanece um pouco mais otimista: 2,1%. Agora é aguardar uma nova avaliação, com base nas informações mais recentes.

Os mais devotos ainda apostam que Jair Bolsonaro “vai mudar” e assumir postura compatível com a de um presidente da República. São os mesmos que apostavam que ele mudaria quando assumisse o cargo. Até lá, tudo indica que esse vai ser o processo de aprendizagem mais nocivo da História do Brasil. Caso aprenda, é claro, o que não é tão provável.



Cães e gatos abandonados pelas ruas da cidade



É impressionante a quantidade de animais abandonados pela Feira de Santana. Cães, gatos e, às vezes, até cavalos, que já não aguentam o repuxo do trabalho, são deixados por ruas, avenidas, praças e, sobretudo, pelos terrenos baldios que vão escasseando pela cidade. Perdi a conta dos filhotes de gato que já vi abandonados pelas calçadas. Dolorosos, os frágeis miados desses animais comovem passantes – sobretudo crianças – que costumam seguir adiante porque não têm solução para dar. Tem quem evite olhar, para não se comover.

Vários terminam atropelados. É comum ver cadáveres sendo destroçados pelos pneus dos veículos, amontoados de pelos e manchas rubras, sobretudo nas grandes avenidas e nas congestionadas rodovias federais que cortam a Feira de Santana. Os que sobrevivem movem-se, penosamente, arrastando seus aleijões.

Enquanto não são atropelados, muitos vão padecendo com a fome e com as doenças. Disputam, nos pontos de lixo, sobras de comida descartadas com displicência. Quando não encontram esses detritos, estendem olhares súplices, dolorosos, para quem passa transportando qualquer coisa comestível. É um comovente e triste espetáculo, às avessas, que nunca tem fim.

Cadelas no cio atraem matilhas que, às vezes, somam mais de dez cães. Um ou outro ainda conserva o pelo limpo, uma coleira eventual, sinal de que se extraviou ou foi abandonado recentemente. A maioria, porém, já padece com a sarna, com as feridas, com a fome e, às vezes, com a agressividade que o abandono e a hostilidade impõem.

Poder público?

Normalmente, a cobrança por providências recai sobre o poder público. É verdade que os animais deveriam dispor de maior atenção, com iniciativas que incluam a castração massiva e campanhas de orientação para os proprietários, que cruelmente descartam bichos como se fossem qualquer produto usado, imprestável.

A maior parcela de responsabilidade pela situação, porém, é da sociedade. Afinal, são as pessoas que tomam a decisão de criar animais. São elas, também, que abandonam, pelas ruas, filhotes de cães e gatos para que morram longe dos seus olhos – deixar numa esquina apostando numa comovida adoção é um exercício de autoengano –, alimentando o espetáculo cruel que se vê com desesperadora frequência.

Nesses tempos ásperos, imaginar que questões do gênero vão sensibilizar os brasileiros – e feirenses – talvez seja ingenuidade. Afinal, aqui se mata seres humanos em escala industrial. E, mais que indiferença, esse genocídio – do negro, do pobre, do jovem –, em muitos, causa alegria, contentamento. Sendo assim com gente, que tipo de tratamento se deve esperar para os animais, não é mesmo?

Mesmo assim, abordar a questão é essencial. Mais do que os seres humanos desafortunados, os animais não têm voz. Quem conserva qualquer traço de sensibilidade não pode, portanto, seguir ignorando a questão. Anos atrás, em Salvador, a prefeitura conduziu uma maciça campanha de castração de cães. O número desses animais pelas ruas da cidade caiu dramaticamente.

Por que não aqui na Feira de Santana também?

André Pomponet